
É um dia como outro qualquer nesse subúrbio japonês, uma família se reúne na sala de estar para comemorarem juntos sua última aquisição, uma caixa de papelão aberta, dentro dela, envolto em isopor e plástico bolha, se encontra – desmontado – o mais novo membro da família.
Este é apenas um entre tantos trabalhos do surrealismo tétrico do pintor japonês Tetsuya Ishida, nascido 1973, filho de um político do parlamento, frustrou os planos da família quando declarou suas pretensões a carreira artística.

Após a graduação, decepcionado com a escolha profissional de seu filho, os parentes de Ishida negaram qualquer apoio financeiro a ele, esse episódio, a mistura das pretensões, da influência e pressões do âmbito familiar, mais tarde se tornaria um dos pilares da arte de Ishida.
Passou parte de sua vida trabalhando em estúdios, desenvolvendo artes conceituais e storyboards, até que com o início da resseção na década de noventa, Ishida iniciou seus projetos solos.

Em seus trabalhos, Ishida explora a frágil identidade japonesa, assim como promove duras críticas ao controverso sistema educacional e acadêmico do país, famoso por episódios que vão desde escândalos sexuais a omissão de duros casos de bullying por parte de professores e pedagogos, outro ponto interessante é como ele ilustra a constante adaptação do cotidiano em relação as novas tecnologias produzidas pelo país.
Sentimentos como isolação, ansiedade, claustrofobia acompanham suas obras, para ilustrar seus alicerces críticos, as obras costumam compartilhar referências em comum, como a desconstrução do aspecto humano e sua integração com objetos domésticos ou cotidiano.

Em todas suas obras, as pessoas retratadas compartilham do mesmo rosto – um ataque a falta de individualismo do trabalhador japonês – destituído de expressão ou sentimento, muitas vezes subjugado ou alienado dos acontecimentos ao redor e até mesmo de sua própria forma.
Este rosto recorrente nas obras não é nada menos que um autorretrato do autor, que ao integrar-se com sua obra, procura transmitir seu sentimento de desconforto perante a sociedade japonesa.

Em 2005, aos 31 anos, Tetsuya Ishida morreu atropelado por um trem, o que levanta até hoje uma série de especulações sobre suicídio, por ironia do destino. Quatro anos após o incidente, sua família, que tanto criticou e rechaçou os seus trabalhos, foi condecorada com a medalha de honra púrpura japonesa, uma homenagem reservada aos cidadãos do país que atingiram grande mérito acadêmico ou artístico.