Não dá para negar: a ciência é responsável por inúmeros avanços em
áreas como a saúde. Ainda assim, para alcançar diversas dessas
conquistas, alguns tabus polêmicos e experimentos que transpassam as
barreiras da ética precisaram ser feitos.
A difícil escolha que os cientistas devem constantemente fazer –
seguir com as pesquisas e ferir alguns conceitos éticos ou buscar outro
caminho? – já levou a medicina e a tecnologia a grandes conquistas, mas
também a abandonar trabalhos que poderiam trazer grandes contribuições à
humanidade.
Reunimos alguns desses experimentos, explicando não só o fator
científico, mas também o porquê do abandono deles. O Tecmundo já adianta
que os exemplos selecionados abaixo são apenas a título de curiosidade
histórica e debate, sem refletir na opinião do site.
A questão dos gêmeos
Dois irmãos gêmeos idênticos que crescem juntos começam parte da
infância com grandes semelhanças físicas e psicológicas. Com o tempo,
entretanto, mesmo que sejam criados da mesma maneira pelos pais, eles
tornam-se pessoas completamente diferentes. Por que isso acontece?
Essa
é a pergunta que alguns estudos pretendiam responder com um
experimento: controlar o crescimento de dois gêmeos idênticos que seriam
separados, para construir um rigoroso estudo sobre genética, educação e
formação da identidade humana.
Por que não avançou?
Comparado a alguns outros, esse estudo parece até mais leve, mas
ainda tem suas peculiaridades: estamos falando de separar irmãos e
forçá-los a conviverem sem contato um com o outro.
Além disso, a mãe teria que concordar em “doar” uma das crianças para
a ciência, além de ter a vida de ambos os filhos constantemente
monitorada. Sem contar que eles seriam submetidos a várias condições
forçadas para trazer conclusões aos estudos, como um determinado tipo de
clima, dieta e educação.
Antes das farmácias
Testar remédios antes que eles sejam liberados para venda é uma
prática comum em países como os Estados Unidos, que protege os
voluntários por lei, fora o uso de cobaias como ratos e coelhos. Mas até
que ponto – ou até que tipo de medicamento – seria ético procurar
pessoas para comprovar a eficiência de uma substância?
Testar drogas e outras toxinas diretamente em humanos, por exemplo,
poderia auxiliar a ciência a conhecer sintomas e até a acelerar o
processo de produção de antídotos ou remédios de combate a vários
componentes químicos danosos. Pular a etapa de animais e partir direto
para pessoas exigiria ainda o recrutamento de “cobaias” de etnias e
condições de saúde diferentes – e o risco de alguém sair sem vida do
experimento seria muito alta.
Por que parar?
Mesmo que seja algo voluntário, experimentar drogas e toxinas em um
ser humano é uma prática extremamente cruel (sem contar as cobaias
animais, que sofrem igualmente). Vários efeitos colaterais danosos devem
ocorrer nos testes preliminares. Por enquanto, não há um sinal de que
isso será substituído – afinal, é muito difícil saber se um remédio
funciona realmente até que alguém o ingira.
Muito além da Segunda Guerra Mundial
Josef Mengele, o Anjo da Morte, principal responsável pelos testes nazistas. (Fonte da imagem: Wikipédia)Os
nazistas foram responsáveis por uma das piores guerras que a humanidade
presenciou. Não só em termos bélicos, mas também pelas atrocidades
cometidas nos campos de concentração espalhados pelos países do Eixo.
Mas apesar da ciência sofrer por admitir, é inegável que alguns
experimentos seguidos nesses locais eram pioneiros e trouxeram
contribuições. Pesquisas sobre hipotermia, a relação entre fumar e o
câncer de pulmão (e campanhas antitabagismo), gases tóxicos e até
fertilizantes baratos foram apreendidas e posteriormente utilizadas por
laboratórios dos Aliados.
Foi bom ter parado?
Com certeza. Apesar das contribuições, os métodos usados eram
completamente controversos, torturando e matando um alto número de
prisioneiros – todos eles cobaias forçadas, como judeus, ciganos e
soviéticos.
Além disso, algumas das pesquisas eram absurdas e sem utilidade
científica, como as atrocidades conduzidas pelo Dr. Josef Mengele (que
buscava explicações genéticas para a raça ariana) ou algumas ideias
boladas por Hitler e Himmler em pessoa (como testar a relação entre
canhotos e a homossexualidade, por exemplo).
Um filho alto, forte e saudável, por favor
Parece roteiro de ficção científica (e é, como em “Gattaca: A
Experiência Genética”): pesquisas a nível genético poderiam determinar
características dos bebês antes mesmo que eles nasçam. Deixá-lo propenso
a ter certas características físicas, com uma aptidão para esportes ou
inteligência fora do comum para matemática, entre outras, faz crescer um
brilho nos olhos de muitos pais.
Em "Gattaca", você pode ser bom em esportes com mudanças genéticas. (Fonte da imagem: Columbia Pictures)
Além disso, doenças seriam curadas antes mesmo de se manifestarem – e
saberíamos até a probabilidade de desenvolvermos diabetes, câncer ou
problemas cardíacos, por exemplo.
Devemos levar isso em frente?
Estamos falando em modificação genética, o mesmo princípio do uso de
células-tronco ou da clonagem. Além disso, estaríamos modificando
características que viriam naturalmente nas pessoas, entrando em debates
éticos e até religiosos.
Por fim, essas pesquisas ainda estão em fase inicial. Nada impede,
portanto, que algo dê errado e a criança nasça com problemas de saúde
causados pelos testes.
Os mistérios do cérebro humano
O cérebro é um dos órgãos mais fascinante do ser humano. Ele define
várias de nossas capacidades e é capaz de permitir ou desabilitar
funções de nosso corpo, além de controlar a memória e nossas emoções,
entre outros fatores ainda pouco estudados.
A existência do que chamamos de “alma”, por exemplo, é uma das
questões mais intrigantes da área: cientistas procuram saber se há um
ponto do cérebro responsável por essa essência – e o que ela tem de
divina ou natural.
Qual a polêmica e em que isso nos ajudaria?
Só mexer com religião já causaria uma enorme polêmica. Além disso, há
a questão ética, afinal seria necessário mexer em cérebros humanos
vivos para procurar os pontos específicos que são responsáveis por
algumas funções corporais.
Ainda assim, entender um pouco mais o funcionamento do cérebro humano
seria valioso – afinal, seria possível estudar regiões ainda pouco
exploradas do órgão – e quem sabe até aproximar ciência e religião (ou
afastá-las de vez, na pior das hipóteses).
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